Sunday, March 11, 2007

Aprendi desde criança, que devemos dar. Aprendi também, que não nos devemos “gabar” daquilo que damos. Aprendi também que quanto mais damos mais temos. Quer uma ou outra coisa são extremamente difíceis… faço esse experiência todos os dias, sem dar por ela gabo-me do que dou, do que faço… Querem saber com quem a prendi isto, não devia dizê-lo mas vou partilha-lo. Foi com a minha mãe. Há coisas que se aprendem no ventre materno, vêm com aquele leite que se gera na maminha da mamã, diferente do leite que se compra na farmácia ou no supermercado.
Continuamos em tempo de Quaresma. Uma das dimensões da Quaresma é a esmola. Tenho pena que a maior parte das vezes resumamos a esmola a algo material, e mais concretamente ao dinheiro. Esta dimensão é muito mais do que cinco tostões que depositamos numa caixa ou na mão de alguém.
A esmola a que a Quaresma nos desafia, é o olharmos para fora e percebermos que muitas pessoas à minha volta têm fome e sede do meu tempo, da minha vida, das minhas histórias e, também dos meus bens.A esmola a que a Quaresma me desafia é um tempo para partilhar aquilo que tenho e o que sou. É um tempo onde devemos aprender a conjugar o verbo dar…

16 comments:

Anonymous said...

De facto, reconhecer-mos que nos gabamos do que damos, já é um principio para corrigir esse "defeito"...
Dar esmolas numa altura em que todos nos queixamos da "crise", é mesmo pelo desafio da quaresma,e por mim falo, o pouco que possa dar, certamente nao me fará falta...
Mas recordar atravez da mãe, fez-me lembrar o quanto é bom recordar as coisas simples e grandiosas que por vezes esquecemos...
Á mãe, votos de felicidades,para juntos poderem partilhar, o que de bom lhe ensinou,e que faz dele o homem que é hoje...
Boa continuação da quaresma...

Anonymous said...

Muito bonito Padre! E muito verdadeiro! Não sou mãe mas tenho Mãe e conheço muitas outras. O amor que delas vem deve estar muito próximo do Deus. Não sente isso? E porque é que o dos filhos se afasta tanto... recebem tanto e dão tão pouco...
Um abraço

Maria João said...

Também acho que a maior doacção hoje em dia é o nosso tempo.

É aquilo que nos custa mais partilhar. Achamos que nunca temos tempo para nada.

Anonymous said...

É um pouco grande, mas lembrei-me deste poema de K. Gibran sobre o Dom que vem a propósito.
Já agora, e antes do poema, podes visitar:
http://pjoaomaria.blogs.sapo.pt/
é uma experi~encia ainda sem nome, tem os defeitos e a fragilidade de quem começa a caminhar.
Um abraço.

O DOM

ENTÃO um homem rico disse:
- Fala-nos do Dom.

E ele respondeu:

- Dais muito pouco,
Quando dais daquilo que vos pertence.

Quando vos dais a vós mesmos
É que dais realmente.

Que é aquilo que vos pertence,
senão coisas que guardais ciosamente,
com medo de vir a precisar delas amanhã?

E amanhã,
Que trará o amanhã
Ao cão demasiado prudente
Que enterra os osso na areia movediça
Enquanto segue os peregrinos
A caminho da cidade santa?

E que é o medo da miséria,
Senão a própria miséria?

Quando o vosso poço está cheio,
Não é o medo à sede
Que torna a vossa sede insaciável?

Alguns dão pouco
Do muito que têm,
E fazem isso
Em troca do reconhecimento,
E o seu desejo oculto
Corrompe os seus dons.

Outros têm pouco
E dão tudo.

Estes são os que acreditam na vida,
Na bondade da vida
E o seu cofre nunca está vazio.

Há quem dê com alegria,
E esta alegria é a sua recompensa.

Há quem dê cheio de dores,
E essas dores são o seu Baptismo.

Há ainda quem dê, inconsciente, da sua vritude,
Sem nisso sentir dor nem alegria.

Dão como os mirtos do vale
Que a espaços atiram para o céu
O seu perfume.

É bom dar quando nos pedem;
E é bom dar sem que nos peçam,
Como bons entendedores.

E para o homem generoso,
Procurar aquele que vai receber
É maior alegria do que dar.

E haverá alguma coisa
Que possai conservar?
Tudo quanto possuís
Será dado um dia.

Portanto, dai agora,
Para que o tempo de dar seja vosso
E não dos vossos herdeiros.

Muitas vezes dizeis:
- Gostava de dar
mas só aos que merecem.

As árvores dos vosso pomares
Não falam assim,
Nem os rebentos das vossas devesas.

Dão para poderem viver,
Porque guardar é perecer.

Por certo
Aquele que é digno de receber
Os seus dias e as suas noites,
É digno de receber de vós tudo o resto.

E aquele que mereceu
Beber do oceano da vida
Merece encher a sua taça
Do vosso regato.

E que maior merecimento
Do que aquele que reside
Não na caridade, mas na coragem e na confiança
De receber?

E quem sois vós
Para que os homens devam rasgar o peito diante de vós,
Vencendo o orgulho,
Para poderdes ver o seu mérito
A descoberto
E a sua altivez manifesta?

Procurai primeiro
Merecerdes ser doadores
E instrumentos de doação.

Porque, em verdade,
É a vida que dá à vida,
E quando julgais ser doadores,
Sois apenas testemunhas.

E vós que recebeis
- e tois sois recebedores -
não atireis para cima de vós
o peso da gratidão,
sob pena de impordes um jugo
a vós mesmos e àquele que dá.

Mas elevai-vos juntamente com o doador,
Usando os dons como asas.

Porque ligar demasiada importância
à vossa dívida
É duvidar da sua generosidade,
Que tem por mãe a Terra magnânima
E Deus como Pai.

In O Profeta, 27-31.

Paulo said...

E tantos que dão só para se gabarem disso...

Paulo said...

Blogue interessante!!!

Anonymous said...

http://shema.wordpress.com/

jorge esteves said...

Cuidei que esse tempo de conjugar era todo o tempo...
(Acasos me trouxeram por estes lados; li aqui, ali e mais além um pouquito. E vou sem que tenha tenha perdido tempo...)
Abraço!

Anonymous said...

Saborear a Vida
Acessa o blog! e Linka-me pf!

Deus o abençoe e o pague

www.saborearavida.blogspot.com

Anonymous said...

Belas palavras!!!

Ainda mais num tempo onde o Vaticano resolveu mais do que nunca conjugar os verbos "vigiar", "silenciar", proibir"...

Padres falando em doação, em abnegação... Isso me anima a continuar caminhando!

Paz & Bem!!!

Zé Luiz.

Obs.: Não estou conseguindo enviar comentários com meu login! Então segue meu link:

http://osperegrinos.blogspot.com/

Possato Jr. said...

Oi...

Silêncio... Tudo quieto... Tá abandonado aqui???

Eco... Eco... Eco...

Abraço!!!

Paz & Bem!!!

Zé Luiz.

Paulo said...

Excelente artigo, pena que existam pessoas que se gabam de "nada fazer..."

Anonymous said...

joseé esteves
dar o que temos a mis é facil, dar o que nos fáz falta é que e dificil.

Paulo said...

No meu cantinho ficou lá um mimo. Vá buscá-lo antes que se estrague:)

Anonymous said...

Pausas tão grandes, Padre!:( Se fossem os desgraçados dos meus alunos já tinham que ouvir... oh se tinham.
Um abraço

Anonymous said...

Escolheste muito bem a imagem!
E o texto, sem dúvida, repleto de sabedoria.
Nos dias que decorrem é muito difícil saber-se "dar" seja lá o que for sem se querer algo em troca!
Beijinhos